
Enquanto os órgãos de Eloá estão sendo doados, começo a semana apreensivo com o andar da carruagem. Impressionante como as pessoas mudam o foco da conversa.
Quem invadiu o apartamento foi o rapaz, quem foi até lá sem ser convidado foi ele, quem foi lá armado foi ele, quem foi agressivo foi ele, quem espancou a menina durante os dias de cativeiro foi ele, quem esta se sentindo o superstar era ele, quem atirou nas meninas foi ele, quem matou Eloá foi ele.
Não se esqueça disso.
Porque os meios de comunicação estão começando a mudar o foco. No desespero de manter seus programas ao vivo, estão levantando um monte de hipóteses. Inclusive eu vi um repórter sendo muito insistente com uma médica quase forçando-a responder o que ele queira quando perguntava sobre se alguma bala de borracha teria atingido as meninas.
Com tanta coisa pra se fazer, estão deixando o assunto principal de lado pra perguntar sobre bala de borracha, barulho de um tiro antes ou depois e outras coisas.
Como o assassino está isolado, os repórteres (eles de novo) fazem perguntas agressivas ao comando da PM. Veja bem, não que não deva ser investigado. Mas, é preciso ter cuidado com o microfone pois estão mudando o foco da conversa.
Hoje, as pessoas querem saber quantas balas de borracha foram disparadas no apartamento ao invés de cobrarem quantos anos o mocinho vai ficar na cadeia.
Do jeito que a conversa vem sendo conduzida, desfocada, no natal do ano que vem ele receberá indulto para passar o natal com a família enquanto estaremos envolvidos em alguma CPI pra discutir balas de borracha.
Abração.
RICARDO LEITE
Fonte: http://www.ricardoleitecomvoce.com.br/
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